TIAGO NASCIMENTO
Abre as portas do guarda-roupa branco e
desesperadamente começa a lançar todas suas blusinhas em cima da cama. “Essa
não, essa não, essa não...” Decide rever todas suas blusinhas que estão
amontoadas em um canto da cama. E toda indecisão invade seu ser e mais uma vez:
“Essa não, essa não, essa não.” Em meio a tantas blusinhas não consegue
encontrar nenhuma. Muda de ideia e decide tomar o banho. Tomando banho em uma
água gelada será mais fácil tomar tamanha decisão (que blusinha sair? – Dúvida
cruel!). O banheiro e chuveiro são grandes aliados para pessoas tomarem suas
decisões. É na hora do banho que se acaba refletindo sobre a vida. Enfim...
Banho tomado.
Calça, sandálias, colares, brincos, anéis, sutiã tudo em ordem, menos a tal
blusinha. Dirige-se até a cozinha e toma um café, ascende um cigarro. Olha-se
no espelho. Penteia os cabelos. Faz sua melhor maquiagem. Ainda continua na
dúvida de que blusinha escolher. “Por que mulher é tão complicada assim?” –
questiona-se mentalmente.
Em meio a um
telefonema e outro ainda há uma incerteza difícil de decifrar. Que blusinha
escolher em um sábado à noite??? Estar apresentável para todas as suas amigas
ou estar mais bem vestida e bonita que suas amigas, qual seria tamanha
indecisão?
[...] Lá está ela,
no meio da pista, dançando, dançando, dançando livre e leve. Sem nenhum tipo de
medo, sem preocupações. Vivendo o seu momento de pura distração. No meio da
pista gira de um lado para o outro. De lá pra cá, de cá pra lá. Vai girando,
girando... bailarina. As luzes seguem seus passos. Parece não haver mais
ninguém por ali. Só há ela e seus cabelos negros. Seus olhos fixos no nada. A
certeza de que viver é a melhor opção de ser feliz.
A essa altura nem
se recorda mais de que passará por tamanho estressamento para decidir vestir
uma regata branca justa ao seu corpo escultural. Toda aquela dúvida cruel em
que blusinha vestir foi resolvida em segundos quando avistou solitariamente uma
regata branca, dentro do guarda roupa, com as portas cobertas de fotografias e
um pequeno espelho para que pudesse se olhar de vez em quando. E quem irá
conseguir explicar certas indecisões de mulheres como ela?
Continua ela lá
reinando no meio da pista. Todos os olhares estão nela. As pessoas gostam de
vê-la dançar. Ela dança como ninguém. Sempre chama atenção por deslizar na
pista. Talvez cansada, para um pouco, mira seu olhar ao redor... em passos
lentos caminha em direção ao banheiro. Retoca sua maquiagem, reforça o batom
vermelho. Pega uma cerveja e volta pra pista. Livre e solta. Não se incomoda
com os olhares curiosos que a admiram dançando. Permanece ali até o baile
acabar.
Conversa com suas
amigas. Fala de coisas fúteis e sem compromisso, porque o que interessa é estar
na companhia das amigas. Nada de assunto sério. É conversa de gente grande pra
poder rir. Tudo é desculpa para estar junto de quem se gosta. Narra suas
desaventuranças em busca de amores totalmente imperfeitos. Começa a gargalhar
sem oferecer nenhum tipo de explicação as suas amigas que ficam olhando sem
compreender nada, absolutamente nada.
Retomado o fôlego, desacreditada
do que irá falar, pede desculpas pelas gargalhadas e diz: “Vocês não acreditam
que passei mais de meia hora procurando uma blusinha pra poder sair e no final
não a encontrei. Talvez por que a que eu queria ainda não tenho. Não sei. Sei
que fiquei em uma dúvida cruel e o mais prático foi sair com essa regata que
agora que eu percebi que está furada.” Sua amigas em alto e bom som: “Já
tínhamos visto!”. Altos risos.
Nota
do autor: Os relatos desta crônica são totalmente ilusórios, não condizem com a
realidade. Porém, só há uma verdade intrinsecamente infiltrada nela. A de que
enquanto eu escrevia pensava na minha amiga Drika Sant’Anna que foi estar com
Deus (dois meses hoje). O café e cigarro, o corpo esbelto, os cabelos negros, o guarda-roupa
coberto de fotos, as danças na Baluaê
são dela. Foi a forma que encontrei de me recordar sem sentir muita dor. Só
quando temos em nossa memória boas lembranças de pessoas que já nos deixaram é
que a dor da saudade torna-se mais amena.
bjs Drika! É a cara dela Tiago! Saudades da nossa palhacinha de perna de pau!
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