Patético!
Sentia-me
patético ou, quase sempre, me tornava um verdadeiro patético. Mesmo na
incerteza do que significa ser patético. Eu era e pronto.
Talvez
seja normal ser patético quando você está prestes a completar os tão sonhados
dezoito anos. Era diferente, pois toda essa patetice só acontecia quando eu o
avistava.
Acontecia
toda vez que eu o avistava, mas a sensação de maior profundidade patética só
ocorria quando o via no bar, com os amigos, jogando sinuca, impondo o cigarro
entre os dedos, rindo um riso lindo e contagiante, iluminado pela luz
fluorescente sobre a mesa de sinuca.
Costumava
ir ao mesmo bar nas noites de sextas, sábados e domingos. Às vezes, também, as
segundas-feiras. Sempre achei o máximo frequentar um bar as segundas-feiras. Todas
as pessoas que conheço odeiam a segunda por conta do trabalho ou por conta da
ressaca. De um jeito ou de outro odeiam a segunda-feira. Ele frequentava o bar
de domingo a domingo, de segunda a segunda. Todos os dias. Não trabalhava e
exibia com orgulho os seus belos 20 anos. Apostava na sinuca e sempre ganhava.
Com o dinheiro mantinha seus vícios: beber, fumar e jogar.
Acredito
que ele tenha se tornado um vicio para mim. Ele não sabia. Era meu segredo.
Segredo esse que eu só dividia com Gregori {meu melhor fiel irmão amigo.
Gregori
– aquele filho de uma mãe – odiava o bar que eu amava frequentar. Não fumava.
Não bebia. Não jogava. Era péssima companhia de bar, porém era o meu fiel
melhor amigo irmão.
Numa
noite calma de segunda fui ao bar na esperança de vê-lo por lá. Dessa vez Gregori me acompanhou. Altos risos,
fumaça, cerveja, jogos, música. A noite estava calma, mas aquele bar estava
pegando fogo (no sentido figurado). Avisei ao Gregori que iria ao banheiro.
Avistei
atrás de mim, pelo espelho, o amigo do Rafael (Rafael era o moreno alto do bar
por quem eu me apaixonei desde a primeira vez que o vi). Carlos se aproximou e
fixou seus olhos nos meus olhos – pelo espelho. Vagarosamente se aproximou.
Colocou suas mãos em minha barriga – por dentro da camisa.
-
Isso te excita? – sussurrou em meu ouvido.
Fiquei
em silêncio e meio trêmulo.
-
Você gosta dele, não é? – interrogou-me. Eu vejo o jeito que você olha pra ele
todas as noites. Mas... Mas, acho que ele não está nem aí pra você. –
sentenciou sem ao menos eu perguntar sua opinião.
Passeou
suas mãos em minha barriga, abraçou-me de tal forma que pude sentir seu nervo
rígido.
-
Você quer? Quer sentir ele dentro de você?
-
Não entendo. – desconversei.
-
Você o ama?
Virei-me
de frente para ele. – Com licença? E saí transtornado do banheiro.
Fiz
o impossível para continuar agindo normalmente, pois não queria dar
explicações.
Dias
depois retornei ao bar com o Gregori. Depois de umas duas horas e meia bebendo
minha visão já estava praticamente turva. Gregori disse que iria embora.
-
Tudo bem. Vou ficar mais um pouco aqui. Você sabe, né? – disse para meu amigo.
-
Tranquilo. Até amanhã. – falou e saiu.
Passado
alguns minutos vi que Rafael despedia-se de seus amigos. Ele iria embora. Fui
ao balcão. Paguei minha conta. Em passos lentos seguia atrás dele. Eu sabia
onde ele morava. Cidade pequena é assim: você é conhecido de todos, sabe onde
moram, nomes etc.
Rafael
não estava indo para casa. Aquela rua não o levaria para sua casa. Fiquei
paranoico. Imaginei milhões de coisas e tive certeza que realmente eu era um
patético por estar seguindo-o. Em nenhum momento ele olhou para trás. Acredito
que tenha premeditado que eu soubesse a verdade.
Após
virarmos em uma esquina vi Gregori. Me escondi atrás da árvore. Ele, o Gregori,
estava todo sorridente e caminhando de braços abertos. Rafael abriu os braços
também e correu em sua direção. Esfreguei meus olhos, pois acreditei por
segundos estar vivendo um pesadelo, mas era tudo real.
Abraçaram-se.
Beijaram-se. As lágrimas molharam meu rosto. Não poderia ser. Eu não queria
acreditar no que meus olhos viam.
Nunca
mais voltei ao bar. Nunca mais quis ver Rafael. Nunca mais falei com Gregori.
Continuei com a certeza de quão patético fui. Às vezes o amor é patético.
Escrito
entre os dias 16 e 17 de maio de 2014. Por Ti Nascimento.
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