quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Vontade de estar



Fica o gosto do beijo,
o cheiro no pescoço,
sussurros nos ouvidos,
seus olhos nos meus – na hora do amor.
Meus abraços em seus braços.
Lembranças e ainda somos os mesmos.
Questiono aos céus o motivo
de nossas vidas não começarem no altar.
Tão bom estar com você!
Acordar com você, beijar você.
Te ter por um dia ou noite.
Ficar suspirando pelos cantos.
Ainda sei de cor cada centímetro seu.
Recordo com exatidão a geografia desse corpo seu.
Em um flashback
me transporto no tempo e ao mesmo tempo
tenho a certeza que nada mudou.
Você tem esse dom
de confundir e fazer bagunça em meu coração.
Deixa todos meus passos sem direção.
É só você surgir que todas as certezas se vão.
O nunca será nunca
e me rendo outra e outra vez.
Estamos de volta ao inverno do passado
aquecendo nossos corpos
com todo fogo da paixão.
E mais uma vez,
como de outras vezes,
todas as certezas se vão.
E, fica a louca vontade de estar...


segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Sábado à noite


TIAGO NASCIMENTO

Abre as portas do guarda-roupa branco e desesperadamente começa a lançar todas suas blusinhas em cima da cama. “Essa não, essa não, essa não...” Decide rever todas suas blusinhas que estão amontoadas em um canto da cama. E toda indecisão invade seu ser e mais uma vez: “Essa não, essa não, essa não.” Em meio a tantas blusinhas não consegue encontrar nenhuma. Muda de ideia e decide tomar o banho. Tomando banho em uma água gelada será mais fácil tomar tamanha decisão (que blusinha sair? – Dúvida cruel!). O banheiro e chuveiro são grandes aliados para pessoas tomarem suas decisões. É na hora do banho que se acaba refletindo sobre a vida. Enfim...
Banho tomado. Calça, sandálias, colares, brincos, anéis, sutiã tudo em ordem, menos a tal blusinha. Dirige-se até a cozinha e toma um café, ascende um cigarro. Olha-se no espelho. Penteia os cabelos. Faz sua melhor maquiagem. Ainda continua na dúvida de que blusinha escolher. “Por que mulher é tão complicada assim?” – questiona-se mentalmente.
Em meio a um telefonema e outro ainda há uma incerteza difícil de decifrar. Que blusinha escolher em um sábado à noite??? Estar apresentável para todas as suas amigas ou estar mais bem vestida e bonita que suas amigas, qual seria tamanha indecisão?
[...] Lá está ela, no meio da pista, dançando, dançando, dançando livre e leve. Sem nenhum tipo de medo, sem preocupações. Vivendo o seu momento de pura distração. No meio da pista gira de um lado para o outro. De lá pra cá, de cá pra lá. Vai girando, girando... bailarina. As luzes seguem seus passos. Parece não haver mais ninguém por ali. Só há ela e seus cabelos negros. Seus olhos fixos no nada. A certeza de que viver é a melhor opção de ser feliz.
A essa altura nem se recorda mais de que passará por tamanho estressamento para decidir vestir uma regata branca justa ao seu corpo escultural. Toda aquela dúvida cruel em que blusinha vestir foi resolvida em segundos quando avistou solitariamente uma regata branca, dentro do guarda roupa, com as portas cobertas de fotografias e um pequeno espelho para que pudesse se olhar de vez em quando. E quem irá conseguir explicar certas indecisões de mulheres como ela?
Continua ela lá reinando no meio da pista. Todos os olhares estão nela. As pessoas gostam de vê-la dançar. Ela dança como ninguém. Sempre chama atenção por deslizar na pista. Talvez cansada, para um pouco, mira seu olhar ao redor... em passos lentos caminha em direção ao banheiro. Retoca sua maquiagem, reforça o batom vermelho. Pega uma cerveja e volta pra pista. Livre e solta. Não se incomoda com os olhares curiosos que a admiram dançando. Permanece ali até o baile acabar.
Conversa com suas amigas. Fala de coisas fúteis e sem compromisso, porque o que interessa é estar na companhia das amigas. Nada de assunto sério. É conversa de gente grande pra poder rir. Tudo é desculpa para estar junto de quem se gosta. Narra suas desaventuranças em busca de amores totalmente imperfeitos. Começa a gargalhar sem oferecer nenhum tipo de explicação as suas amigas que ficam olhando sem compreender nada, absolutamente nada.
Retomado o fôlego, desacreditada do que irá falar, pede desculpas pelas gargalhadas e diz: “Vocês não acreditam que passei mais de meia hora procurando uma blusinha pra poder sair e no final não a encontrei. Talvez por que a que eu queria ainda não tenho. Não sei. Sei que fiquei em uma dúvida cruel e o mais prático foi sair com essa regata que agora que eu percebi que está furada.” Sua amigas em alto e bom som: “Já tínhamos visto!”. Altos risos.


Nota do autor: Os relatos desta crônica são totalmente ilusórios, não condizem com a realidade. Porém, só há uma verdade intrinsecamente infiltrada nela. A de que enquanto eu escrevia pensava na minha amiga Drika Sant’Anna que foi estar com Deus (dois meses hoje). O café e cigarro, o corpo esbelto, os cabelos negros, o guarda-roupa coberto de fotos, as danças na Baluaê são dela. Foi a forma que encontrei de me recordar sem sentir muita dor. Só quando temos em nossa memória boas lembranças de pessoas que já nos deixaram é que a dor da saudade torna-se mais amena.