sexta-feira, 21 de março de 2014

Do fim ao começo



Tudo tem começo meio e fim!
Foi assim que aprendi.
Não explicaram se o fim já é o começo
ou se no meio pode ter um fim.
Há sempre um inicio
quando se crê que é o fim.
Se começo pelo fim
onde fica o meio e o começo?
Por que complicar se tudo é tão simples?
Enfim! Quando menos espera... é fim.
Ninguém consegue explicar
se já estava na metade
ou poderia ter mais idade
para aprender a caminhar.
No inicio da noite um fim.
No fim do dia um começo.
No começo meia história.
No meio do dia é o meio do fim.
Quem poderá explicar
a existência de tanto mistério
sem complicar que começo é fim
ou o fim só um começo?
E o meio?
Do medo de não ser assim,
se toda história tem começo meio e fim
ou no meio tudo acaba
e começa outra história.
Quem poderá explicar
se no meio da história perder o ar?

Fim.



quinta-feira, 20 de março de 2014

Tudo que há em mim



Mesmo quando perco a fé
deposito em você tudo que há em mim.
Mesmo eu esgotado
em você encontro forças.
Mesmo quando todas as portas estão fechadas
busco esperança...

Se meus olhos insistem em molhar meu rosto
sei que estás comigo.
Se não avisto luz ao longe
procuro me encontrar em você.

Mas... sem você não sei ser somente eu.

Mesmo não sendo do jeito que imaginei
em um sopro, ao vento,
sinto você do meu lado.
Quando sinto que estou desmoronando
minhas forças se renovam.
E, se a luz se apagar,
você brilhará em mim.

Do meu fim você faz começo.
Do meu avesso tudo certo ficará.

Sem medo quero te encontrar.
Para sempre em teus braços descansar.
Reconhecer que o teu amor
é o que vale realmente a pena.
Mesmo sendo eu todo ao contrário
você não se cansa de me amar.
E me ama com tudo que há em mim.




quinta-feira, 6 de março de 2014

Até um dia...



Deitou em seu tórax enquanto ele retirou um cigarro do maço. Colocou nos lábios e suspirou. Tão logo acariciou seu rosto e a beijou. Por instantes olharam para o teto. Satisfação.
Ascendeu o cigarro. Tragou. Soprou pelo ar a fumaça e com voz embargada questionou: - se arrependeu de ter vindo? – Não! – respondeu da boca pra fora e engatou um eu te amo, mas a pouca luz não o deixou ver que seus olhos brilhavam.
- Eu gosto de você – afirmou categoricamente. Não, eu não te amo, mas gosto de você – se justificou. - Não te entendo! Se não me ama por que me procura?
- É que sem você não tem sentido. Silêncio. Prosseguiu: - me recordo do primeiro beijo, da primeira vez, dos seus olhos a me perseguir no pátio da escola, nossos encontros escondidos para ninguém nos descobrir. Suspirou.
- Realmente não te entendo!
Sorriu timidamente. Não importa quantas vezes eu me case ou quantas mulheres terei... é pra você que sempre volto. Queira você ou não.
- Minhas amigas dizem que devemos acabar com essa patifaria e nos casar. Ele riu e ascendeu mais um cigarro.
- Você nunca me levou a sério e não seria agora que estaria sendo sério com seus próprios sentimentos ou fantasmas.
- Por que você veio?
- Estou aqui por mim e por você. Principalmente, por mim. Precisava olhar em seus olhos, ouvir sua voz, sentir o calor do seu corpo. Preciso da certeza que nunca mais terei nenhum contato com você. Não sou mais aquela pré-adolescentezinha apaixonada e boba que vivia te esperando. Não deu espaço para ele se justificar ou falar algo. Então, eu decidi que essa seria a nossa última noite. Esse é um adeus. Não tenho a vida inteira pra te esperar. Esse vai e vem só nos maltrata.
- É um fim?
- É um ponto final. Todas as histórias de amor tem um fim. Vivem “felizes para sempre” ou vivem, cada um, feliz para sempre. Happy end somente em contos de fadas e estamos falando de vida real. Só há amor quando os dois lados são correspondidos. Estou amando por mim e por você. Não é saudável essa situação. Por te amar te deixo completamente livre nesta noite com a lua de testemunha. (A janela do quarto estava aberta e a visão da lua cheira era um privilégio).
Levantou. Vestiu-se. Ascendeu o cigarro. Tragou. – Até nunca mais! Virou-se e, sem olhar para traz, partiu... Ouviu sair dos lábios dele, entre os dentes: - até um dia.
Seguiu sem caminho com a sensação que havia se libertado daquele amor doente e juvenil que a acompanhou por quase um vida.


Nota do autor: Só se torna prisioneiro quem não está disposto a viver livremente uma grande história de amor.



Pequeno conto do desamor



Procuro todos dos dias me lembrar de que nada é para sempre. Que também nos cansamos em insistir em coisas sem futuro. E, sim! É possível o coração trocar de amor sem ao menos percebermos.



i love you




Descobriram o amor quando os olhos se cruzaram em um desses bailes de carnaval. Amaram-se por quinze meses e três dias. Tempo suficiente para guardar em suas memórias detalhes pequenos dos dois. O mesmo destino que os uniram fez questão de separá-los. Eu não tenho nenhuma ligação com o romance a não ser pelo fato de ser amiga confidente de um dos lados.
Eles se amavam!
Vivenciaram cada segundo como se fosse o último. Então, posso afirmar que quando se ama intensamente vale a pena cada lágrima derramada no fim.

- Você é diferente!
- Eu?
- É, você mesmo!
- Me explique, por favor.
- Você é diferente dos outros. Você consegue ler segredos do íntimo da minha alma. Você enxerga trocentas qualidades onde vejo trilhões de defeitos. [Suspiros]. Mesmo quando eu não acreditava mais em mim você apostou todas as suas fichas.
- Você é engraçado – interrompeu.
- Posso até ser engraçado, mas você é quem me ensinou a estampar um sorriso no rosto quando eu avistava o iceberg em minha frente e tinha medo do barco afundar. Não é você quem diz: “- se está na chuva... dance?”
- É!
- Você poderia estar com outra, mas escolheu a mim. E quando o assunto é escolha você é super decidido. Ao contrário de mim que sou sempre tão bipolar. Ou tripolar? Risos.
- Bobo!
- Falo sério! A vida não teria tanto sentido se não te conhecesse. Se meus olhos não tivessem insistido em te perseguir durante todo o baile. Talvez...
- Não há talvez. Eu te amo desde aquele instante.
- Eu sabia que seria amor.
- Você fala de mim de uma forma que ninguém nunca falou. Minha mãe é todo elogio a meu respeito, mas você é diferente.
- Sua mãe? Ela tem toda razão!
Risos.
- Eu estava tentando me encontrar e estava todo errado. O certo é se perder! Não ser careta. Não ter medo de estar vivo. Ser livre para o amor.
- Você é categoricamente certo para se perder.
- Ao contrário, sou totalmente errado. Erro buscando acertar. Perco-me para me encontrar. Se não fosse assim não teria o destino nos apresentado. Vi em seus olhos que precisava de um abraço, de carinho e atenção. Não faz bem viver solitário. Aquele aperto de mão seria a chave para o nosso doce encontro.
- Pode ser.
- Agora tenho a liberdade de te falar sem nenhum tipo de medo que você é o homem que sempre procurei. Você me deixa a vontade. Não tenho medo do seu lado.
- Você sempre fala às coisas que eu gosto de ouvir. Não sou tão bom com as palavras.
- Mas nos completamos. Seus gestos e silêncio dizem muito. Gosto de você por inteiro. Se depender de mim o para sempre nunca acabará.
- Você e suas juras. Está na hora de dormir.
A luz se apaga.
- Eu te amo!
- i love you!


Descobriram enfim que o para sempre chega ao fim, mas ninguém pode culpá-los por terem se amado.



terça-feira, 4 de março de 2014

“E a gente dormir”




“Pro dia nascer feliz” lembra eu e você. Não que eu queira, nem faço questão. Mas recorda nossas madrugadas regadas a cerveja e vodka. Suas reclamações da fumaça do meu cigarro que iria invadir o apartamento. Passivo eu corria pra fumar na varanda ou debruçado na janela do quarto. Não queria te incomodar. Não queria te perder. Não queria ver sonhos meus frustrados por conta de uma porra de cigarro.
Era tudo lindo e “azul da cor do mar” como nos planos feitos por mim. E... eu... te amava. Ah, como eu pensei que te amava! Acreditava fielmente que não suportaria viver meus dias sem você para compartilhar meus medos, anseios, desejos... Eu era praticamente um habitante de Marte sem conhecer as regras de como é viver em Terra. Sonhava acordado. Hoje soa patético, mas eu me sentia bem em meio as minhas crises existenciais. Ou não?!
“E a gente dormir pro dia nascer feliz” era exatamente a vida que eu sempre quis, sonhei, planejei. Era. Hoje se mistura tais lembranças nas velhas cinza de cigarro que fumo. A mesma marca de cigarro, a mesma fumaça branca que invade meu quarto ao som de Amy Winehouse. Ah... Ela, a Amy, me lembra você. Ou melhor, me lembra. Suas dores de amor, seus porres, seus cigarros, suas letras de música que tanto parecem poemas escritos por mim. Ela sim soube traduzir tamanha sofreguidão de amor.            D o r e s   d e  a m o r .
“Pro dia nascer feliz” soa delicada e dolorosamente em meus ouvidos. Dores de amor iguais às cantadas por Maysa nas nossas madrugadas de insônia. Lendo revistas, escrevendo, revisando poemas... Um em cada canto da cama. De vez em quando eu te atormentava, mudava o foco da sua concentração. Mordia suas nádegas só pra te irritar um pouquinho enquanto você juntava as ideias para sua tese de mestrado. Ou era para ver os seus olhos nos meus?
“E agente dormir” e dormíamos na hora em que todos se levantavam para ir trabalhar. Por falar em trabalhar... Recordo-me bem do vizinho que trabalhava em uma conhecida loja. Reclamava ao telefone - vai lá saber pra quem - de nossas noites de amor. Imagino-o do outro lado munido de um copo na parede e com ouvidos bem atentos aos nossos gemidos. Ou era simples vontade de ter um alguém pra chamar de amor dia e noite, principalmente nas madrugadas?
“Só entende quem namora”. Deitado em seu peito, fitando seus olhos chorei. Como chorei. Chorei por medo. Mais uma vez eu estava tão feliz que tinha medo. A felicidade me assustava. Falei que não queria te perder. Você sorriu, enxugou minhas lágrimas, me beijou, disse que não te perderia. Disse mais: que eu era um divisor de águas. E você foi um divisor de águas em minha vida!
“Estamos por um triz pro dia nascer feliz” como naquela manhã chuvosa do dia 24 de setembro. Perdi o ônibus de volta para casa. Voltei pro seu apartamento molhado e fudido de raiva. Mas voltei a sorrir em seu colo com seus braços a me acalmar. E a gente dormiu de tarde pra noite ser mais feliz.
“O céu faz tudo ficar infinito”. Mera metáfora. O amor é escolha! Foi assim que aprendi em nossas filosofadas que sempre terminavam em sexo. Então escolhi não amar mais ou me amar mais? Você saiu para respirar ar puro eu não te acompanhei. Fiquei trancado no apartamento munido de papel e caneta. Expurguei toda minha aflição naquele caderno. Decidi, por raiva, sair pra beber um pouco e você não me acompanhou.
O dia não nasceu feliz como projetado em meus sonhos. Foi uma noite mal dormida. Você na cama, eu no col-chão. Você já sabia, pois leu meus rabiscos. Um beijo e fim.
“Agora vamô embora”.
Quando Cazuza, Ney ou Cássia cantam “Pro dia nascer feliz” tais recordações invadem minh’alma pra lembrar que houve dias felizes. Não que eu queira ou faça questão. Não é escolha. Ou é?







Desapontamento




Por do sol. Domingo qualquer de fevereiro. Apreciava o tom de laranja no horizonte. O sol escondia-se atrás das montanhas. Indo amanhecer no Japão. Possuía tudo o que queria e ao mesmo tempo nada.
Habitava um medo de enganar-se, iludir-se, de falhar... de não acontecer como esperava.
Era um desencantamento em pleno por do sol. Faltavam alguns dias para o carnaval. Seu corpo esta lá. Seus olhos avistavam o tom de cinza invadir o céu que a pouco era azulzinho. Sua mente viajava em flashesback desemfreadamente. Ora no passado ora no agora ora em um futuro incerto.
Possuía sonhos! Desejava outro rumo, outra vida, outro sentido. Não queria parecer, mas ser.
Tamanha dedicação consumia seus dias à procura da felicidade. Ou era feliz e não sabia?
Ah... sim! Havia elogios – alimento do ego.
A vida era somente aquilo: rotina.

O espetáculo do por do sol findou-se. Ascendeu o último cigarro que acabou entre os dedos sem nenhum trago. Não quis compreender, não buscou motivos. Virou-se para si fronte ao espelho. Sorriu um riso amarelo. Faltou-lhe ar.