terça-feira, 6 de março de 2012

Eu, o chapéu e meus fantasmas...



Carlos Drummond de Andrade em sua profunda poesia incomoda-se com uma pedra que encontra no meio do caminho. E a pedra estava lá no meio de seu caminho. Maldita pedra! Um tropeço, uma inspiração. Papel e caneta na mão (ou seria um lápis?). Não sei!!! Só sei que a pedra estava lá: no meio do caminho.

A pedra estava no meio do caminho e continuou lá, pois Drummond foi embora para compor mais um poema. A pedra no meio do caminho o incomodou. Ele precisava se expressar e dizer que aquela pedra estava no meio de seu caminho.

Esses dias - não muito tempo atrás - encontrei um clássico chapéu panamá, feito à mão em palha toquilla, provavelmente, feito pelos índios incas equatorianos – típico de reis e príncipes. Uma elegância! O chapéu poderia estar no meio do caminho feito a pedra do Carlos, mas não estava. Estava estático em cima de um pedaço de concreto que segurava uns ferros de uma antiga ponte, próximo a uma cachoeira. Em uma estrada de terra em meio a matos e árvores. Não havia sinal algum de que alguém passara por ali antes de mim. Não existiam pegadas no chão, não havia marcas de pneus, não tinha nada, só o chapéu panamá.

Sem nenhum vento aparente eis que o chapéu voa para longe, longe e longe fazendo um movimento estranho que mexeu com o meu Eu. O chapéu de fato mexera com algo que habitava dentro mim, algo que não sabia como explicar bem o que era. Aquela série de movimentos executados pelo chapéu me fez parar e pensar... refletir. Apenas um chapéu ou os fantasmas do meu passado? Um acessório qualquer ou meus demônios ainda não exorcizados? Um ou outro? Outro ou um? Os outros...





Tiago Nascimento

Participação:

Carol Damásio, Nê Sant’Anna e Paulo F. Zaganin.

Iepê, 06/03/2012.

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