quinta-feira, 6 de março de 2014

Até um dia...



Deitou em seu tórax enquanto ele retirou um cigarro do maço. Colocou nos lábios e suspirou. Tão logo acariciou seu rosto e a beijou. Por instantes olharam para o teto. Satisfação.
Ascendeu o cigarro. Tragou. Soprou pelo ar a fumaça e com voz embargada questionou: - se arrependeu de ter vindo? – Não! – respondeu da boca pra fora e engatou um eu te amo, mas a pouca luz não o deixou ver que seus olhos brilhavam.
- Eu gosto de você – afirmou categoricamente. Não, eu não te amo, mas gosto de você – se justificou. - Não te entendo! Se não me ama por que me procura?
- É que sem você não tem sentido. Silêncio. Prosseguiu: - me recordo do primeiro beijo, da primeira vez, dos seus olhos a me perseguir no pátio da escola, nossos encontros escondidos para ninguém nos descobrir. Suspirou.
- Realmente não te entendo!
Sorriu timidamente. Não importa quantas vezes eu me case ou quantas mulheres terei... é pra você que sempre volto. Queira você ou não.
- Minhas amigas dizem que devemos acabar com essa patifaria e nos casar. Ele riu e ascendeu mais um cigarro.
- Você nunca me levou a sério e não seria agora que estaria sendo sério com seus próprios sentimentos ou fantasmas.
- Por que você veio?
- Estou aqui por mim e por você. Principalmente, por mim. Precisava olhar em seus olhos, ouvir sua voz, sentir o calor do seu corpo. Preciso da certeza que nunca mais terei nenhum contato com você. Não sou mais aquela pré-adolescentezinha apaixonada e boba que vivia te esperando. Não deu espaço para ele se justificar ou falar algo. Então, eu decidi que essa seria a nossa última noite. Esse é um adeus. Não tenho a vida inteira pra te esperar. Esse vai e vem só nos maltrata.
- É um fim?
- É um ponto final. Todas as histórias de amor tem um fim. Vivem “felizes para sempre” ou vivem, cada um, feliz para sempre. Happy end somente em contos de fadas e estamos falando de vida real. Só há amor quando os dois lados são correspondidos. Estou amando por mim e por você. Não é saudável essa situação. Por te amar te deixo completamente livre nesta noite com a lua de testemunha. (A janela do quarto estava aberta e a visão da lua cheira era um privilégio).
Levantou. Vestiu-se. Ascendeu o cigarro. Tragou. – Até nunca mais! Virou-se e, sem olhar para traz, partiu... Ouviu sair dos lábios dele, entre os dentes: - até um dia.
Seguiu sem caminho com a sensação que havia se libertado daquele amor doente e juvenil que a acompanhou por quase um vida.


Nota do autor: Só se torna prisioneiro quem não está disposto a viver livremente uma grande história de amor.



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