[PRIMEIRO]
Após longos
anos de trabalho tinha plena convicção de que o que mais precisava era umas
merecidas férias. O corpo e a mente estavam precisando de momentos mais
relaxantes, mais calmos, mais tranquilos. Olhei-me frente ao espelho: “Preciso
de férias! Preciso de férias!”. Até receber o anúncio que teria exatamente 15
dias de férias. “Ebááá!” – animei-me.
Geralmente as
pessoas programam as férias com viagens, lugares a serem visitados, amigos a
serem revistos, etc. e etc. Toda essa programação gira em torno de grana.
Dinheiro. La prata. Taí coisa que não
tenho: dimdim. Mesmo assim resolvi programar alguns dias na casa de um grande
amigo (carinhosamente o chamo de irmãozinho). Iria aproveitar para revê-lo e
rever outras pessoas que há muito tempo não via. Tudo programado e com quase
nada de dinheiro no bolso. Fé e coragem para a aventura.
Sexta-feira,
03h27min. Em um impulso natural meus olhos abriram e avistaram a escuridão do
quarto. Precisava continuar dormindo, porém os olhos insistiam em manterem-se
abertos. Sem um mínimo sinal de que conseguiria voltar a dormir, levantei-me e
fui até o jardim para fumar um cigarro, ver o sol amanhecer, ir tomar café na
padaria, arrumar a casa, deixar tudo no jeito para a viagem – que não era tão
longa – mas permaneceria seis dias fora de casa. Precisava deixar tudo em
ordem.
O relógio
analógico no visor do aparelho celular apontava 10h15min. O meu ônibus sairia
às 11hs. Com tudo em ordem telefonei para meu sobrinho/filho para que ele
ficasse com as chaves de casa até o meu retorno e assim pudesse dar uma
fiscalizada no local. Afinal de contas, não é bom sair de casa e deixá-la
sozinha (sempre vi isso nos telejornais quando a polícia nos oferece aquelas
dicas de como sair em viagem e ter a tranquilidade de que sua casa não será
assaltada, durante os boletins jornalísticos).
11hs37min. Já
estava totalmente impaciente por conta do ônibus não sair do lugar. Só depois
fui descobrir que o motorista estava esperando uma “senhora passageira” para
seguir viagem. Ao som do ronco do motor o ônibus se movimentou e começaria
exatamente naquela hora a minha aventura de férias. Havia adquirido dois dias
atrás o livro “O Poder Da Paciência” – de M. J. Ryan – esse livro contém várias
dicas para diminuir o ritmo, relaxar e encarar a rotina de uma forma mais
tranquila, nos ensinando que a paciência nos ajuda a aproveitar ao máximo
nossos talentos, a administrar a raiva, a crescer no amor e a usufruir o prazer
de cada momento. Ao invés de ficar vendo a paisagem durante a viagem – como de
costume - me aventurei na leitura do livro citado acima e tinha plena convicção
de que eu necessitaria de muita, mas muita paciência para ler um livro sobre
paciência. (Confesso que devorei metade do livro em menos de uma hora de viagem
e que até aquele momento não iria me ajudar em nada, absolutamente nada. Pois,
não consegui – até esse momento em que escrevo – hoje o quarto dia de viagem –
ter exercitado nenhum ensinamento contido no livro). Haja paciência! (Risos
& Pausa para um cigarro ao som de Alcione, “Faz uma loucura por mim”).
“Até que
enfim em terras prudentinas, meu Deus!” – pensei.
Dirigi-me até
a casa do meu amigo. Insistentemente toco a campanhia para que ele se apresse
em abrir o portão e eu possa descansar um pouco o esqueleto. Já que segui
viagem com uma bolsa gigantesca. Nem parecia que iria passar apenas seis dias
na casa dele, mas sim 365 dias. Em dias de frio a minha bagagem aumenta por
conta das blusas de frio, que ocupam 75% de espaço na mala.
Trocamos
algumas palavras no portão e seguimos em direção da casa. Aconcheguei-me e ele
com toda sua gentileza guardou meus pertences em um canto e me apresentou onde
iria dormir aqueles dias. “Essa é sua cama. Onde você irá repousar nos dias que
permanecer em minha humilde residência.” – sentenciou A. D. S. (meu
irmãozinho). Disse “Olá!” para Er. – amigo do meu amigo que estava na casa. Fui
à visinha (Rt.) que fazia muito tempo que não nos víamos.
Conversamos e
conversamos e fizemos alguns planos e jogamos conversa fora e voltamos aos
planos e mais ti-ti-ti-tá-tá-tá e planos e outros planos e conversas intermináveis
para narrar o que tinha nos acontecido nos últimos quase dois meses que não nos
víamos.
Contei a A. D.
S. que já tinha planejado algumas coisas a fazer durante os dias em que me
hospedaria em sua casa. Entre entregar currículos e visitar um sex-shop, por
exemplo.
“Vamos sair
agora!” – afirmou ele sem ao menos me questionar se era o meu desejo naquele
momento. Seguimos até a casa de um amigo dele, o R. Durante toda a tarde
conversamos sobre inúmeros assuntos supérfluos. Tive a certeza que precisava
ter aquele tipo de conversa, sem nada de seriedade, coisas formais ou
convencionais. Fugir literalmente da rotina. Era exatamente o que precisava.
Quando digo fugir da rotina isso inclui todos os horários de café, almoço,
jantar, acordar, dormir e tudo mais que fazia parte do meu dia-a-dia na pequena
Iepê. Rimos muito de tudo e todos e de nós – principalmente.
Despedimo-nos
de R. e seguimos até o sex-shop. Confesso que foi até engraçado, por conta da
moça que nos atendeu. O profissionalismo dela nas explicações de cada produto
para esquentar a relação foi o que mais chamou a nossa atenção. [...] Já era
fim de tarde, o sol já estava indo embora pro Japão. Durante o caminho de volta
até a casa do A. D. S. todos os planos da noite foram mudados por conta do frio
imenso. O mais provável era jantar e dormir.
Chegamos a
sua casa e mudamos o rumo. Colocamos blusa e fomos a um bar. Entre cervejas e
cigarros (eu fumo e ele não) narramos nossas experiências amorosas e nos
aconselhamos. Recordo-me com exatidão quando disse a ele que certas pessoas só
merecem ser ignoradas e nada mais. É regra que tenho tido nesse período de
mudança em minha nova fase de vida. Se a pessoa não te liga, não responde os
seus sms, o melhor a ser feito é ignorar. Simples assim. Continuei: “as coisas,
na vida, são simples, mas o ser humano tem o dom de complicar tudo!” Ele me
olhava como se compreendesse cada sílaba que era vomitada dos meus lábios.
Com os planos
da noite de sexta-feira (13) mudados os de sábado continuavam valendo. Então,
peguei o celular e liguei para uma amiga (J. M.) – época da faculdade que não
tinha visto fazia um bom tempo – avisei que estava em Prudente e que no sábado
iria até a casa dela, na cidade visinha (P.). Aproveitei e liguei para A. N.
que nos falávamos mais de seis meses por telefone e redes sociais, que iria
estar na cidade e que gostaria de conhecê-lo pessoalmente, pois ele já fazia
parte da minha vida.
Conforme o
que já tinha premeditado A. D. S. jantou e às 21hs foi se deitar para descansar
enquanto fiquei na sala assistindo o filme “Querido John”, de Nicolas Sparks – também
autor do Best-seller “Diário de uma paixão”. Havia colocado na bolsa o livro,
porém preferi ver ao filme antes de iniciar a leitura do livro, por
simplesmente estar com preguiça intelectual. Adormeci.
[DOIS]
Acordamos já
no fim da manhã e inicio da tarde. Fizemos almoço coletivamente. Cada um
responsável por algo que seria servido durante a refeição. O A. G. - primo do A.
D. S. - também tinha sua missão para aquele almoço. Todos colaboraram.
O A. G. foi
trabalhar. Eu e A. D. S. seguimos em direção à rodoviária para ir à cidade
vizinha, que fica uns 30
quilômetros de distância. Ali começaria a aventura de
sábado à tarde. Já no ônibus trocamos algumas mensagens de texto pelo celular
para comentar do ser humano que estava em pé próximo de nós e que falava muito
alto ao telefone. “Ninguém merece ouvir conversas particular de outros, ao
celular, em transporte público” – escrevi para ele.
Quando
chegamos em P. Fomos
direto para casa da J. M. Ela nos recepcionou no portão de sua casa, onde nos
abraçamos demoradamente para matar a saudade que estava nos matando. “Não irei
te largar mais.” – disse ela. Ela abraçou o A. D. S. e nos convidou para
entrar. Pedi que me servisse um copo com água, pois estava com muita sede. Após
isso fomos até a sala de visitas da casa dela onde ficamos ouvindo música,
vendo vídeos, falando sobre a vida. [...] Por termos programado tudo o que
iríamos fazer em P., tínhamos que fazer tudo dentro do horário, era a hora de
nos despedirmos e visitar mais algumas pessoas. [...]
Fomos até a
praça de P. para esperar a hora que A. N. chegasse. Nesse ínterim A. S. D. foi
conversar com um conhecido dele. Enquanto aguardava ansiosamente a chegada de
A. N. Era importante aquele momento.
Meu celular
tocou, era um torpedo do A. N. [...] Liguei e disse o local onde estava. De
longe o avistei vindo, de calça jeans, camiseta preta e uma blusa em mãos. Comentei com
A. D. S. que meu coração estava acelerado e que não saberia o que dizer e etc.
etc.
“Oi!”.
“Oi”.
Silenciei-me. Não sei até agora qual o motivo, mas permanecemos por alguns
minutos em silêncio.
“Senta aqui,
já que você não irá crescer mais mesmo.” – brinquei.
Sentou-se ao
meu lado e trocamos algumas palavras. Interagimos com A. D. S.
Decidimos ir
até a casa da B., amiga em comum de ambos. No caminho fomos falando de assuntos
banais, sem formalidade. Acendi um cigarro. “Já vai fumar de novo?”. – disse
ele. “De novo?” – retruquei. “Agora que estou fumando. Desde a hora em que nos
vimos não fumei nenhum cigarro.” Ele questionou-me o motivo de não ter
abandonado esse velho vício. Disse que sozinho não consigo, que preciso de
incentivo. Ele veio com aquelas lições psicológicas como ter força interior
para alcançar os objetivos. Vi que aquela conversa não nos levaria a nada, já
que tenho minha opinião formada e ele a dele. Era melhor avançar o assunto para
evitar discussões futuras. Seguimos até a casa da B.
A B. estava
na calçada da casa dela com as amigas P. P. e a outra menina, que me falha a
memória, e não consigo lembrar-me o nome dela. B. buscou algumas cadeiras para
nos sentarmos. E terminamos o restante da tarde conversando. Eu e A. D. S. iríamos
retornar a Prudente às 20hs.
[Na casa da
B. eu e A. N. não interagimos muito. Talvez por timidez de ambos. Recordo-me
que ele me olhou e disse que o zíper da minha calça estava aberto. O impulso
foi imediato chequei para verificar se confirmava o que acabara de me dizer.
“Que mentira!”. E, rimos disso. E lembro com exatidão o riso dele pra mim.]
Já a espera
do ônibus, A. D. S. afastou-se de nós um pouco, para ir para a fila do ônibus.
Enquanto eu e A. N. ficamos conversando e fazendo planos para o dia seguinte.
Até agora ainda não sei como aconteceu. Sei que estávamos em um instante
conversando, no seguinte, aproximei-me e o primeiro beijo aconteceu. Tive medo
de o beijo quebrar o feitiço que nos envolvia, mas já era tarde, havia
acontecido. Depois veio o segundo e o terceiro na despedida. Seus lábios eram
doces e macios. Ele extremamente apaixonante.
[De volta a
Prudente. A. D. S. sentou-se mais no fundo, dentro do ônibus, eu mais a frente.
Foi à vez dele ouvir histórias e ouvir música no celular da pessoa que estava
ao lado dele – durante toda a viagem de volta. Ri quando recebi um torpedo dele
dizendo que já não suportava mais a conversa do homem, que provavelmente estava
embriagado.]
Quando chegamos, após o banho,
A. D. S. saiu de carro com alguns amigos e eu fiquei em casa, em pleno sábado,
algo inacreditável; lendo o livro: “Querido John”. Até adormecer.
[TRÊS]
O domingo
começou exatamente às 06h27min, quando o A. G. – primo do A. D. S. – chegou de
uma balada, alterado, e nos acordou para conversar e narrar suas aventuras
noturnas. Não conseguimos mais dormir.
Esperamos Er.
retornar do trabalho (ele trabalha na recepção em um hotel, no período
noturno). Seguimos até a feira-livre para comprar algumas coisas e acabar com a
minha vontade de comer pastel de feira. /Tínhamos certeza que aquele dia seria
super hiper mega blaster agitado./ Despedimos-nos do Er. e fomos para casa,
pois precisávamos fazer almoço, pois o relógio marcava alguns minutos para o
meio dia.
A. D. S.
ligou o aparelho de som no volume máximo com umas músicas super mega agitadas –
das quais não costumo ouvir no dia-a-dia. Todos sabem a minha paixão pela
música popular brasileira (MPB) -. Serviu-se de uma taça de vinho e foi arrumar
a casa, enquanto eu esperava na área, fumando o meu cigarro e tomando uma
cerveja.
Não demorou
muito e J. chegou trazendo consigo uma garrafa de conhaque e outra de Ytapióca
(em ressumo: água ardente, pinga pura). Nem preciso contar que o almoço não
saiu, pois nos ocupamos em beber e ficar alegres para irmos ao vento que iria
ser realizado naquela tarde.
A. N. ligou e
disse que havia mudado de ideia e que não iria mais me ver e nem iria ao
evento. Aquilo me chateou profundamente, pois acreditava que teria a companhia
dele naquela tarde. Voltei a beber com J. & A. D. S.
Passados
alguns minutos A. N. ligou novamente e pediu para que eu o encontrasse na
rodoviária, pois mudara de ideia e que iria me ver e que, também, iríamos ao
evento. Animei-me profundamente. [... tomei banho, me perfumei, creme pelo corpo
– segui ao encontro dele... A. D. S. & J. seguiram para o evento].
(Os fatos, as
conversas, os gestos, os olhares e tudo mais que nos aconteceu durante as horas
que passei junto ao A. N. irei retê-los em minha memória, por puro egoísmo
meu).
Eis que chega
a hora de ir com o A. N. na rodoviária para retornar para casa. Ele tinha que
trabalhar na manhã seguinte. Conversamos mais um pouco...
Despedimo-nos.
Fiquei
olhando-o até que chegasse ao ônibus. Ele olhou para trás: “Vamos nos falando.”
Não compreendi com exatidão o que aquela frase significava para ele. Meu
coração ficou apertado, coloquei a toca – da minha blusa -, e segui tentando
conter as lágrimas que insistiram em rolar sem a minha menor vontade.
[QUATRO]
Entregar
currículos era umas das atividades que ainda nos faltava para concretizar.
Acordei com A. D. S. me chamando. Tomamos café na casa da R. Seguimos para
alguns locais para entregar currículo. Entre um local e outro fomos conversando
sobre o que cada um havia feito no domingo, já que não fizemos companhia um
para o outro durante o evento no Parque do Povo. Tinha certeza que em algum
momento A. S. D. tocaria no assunto sobre A. N. “E aí?” – disse ele. Contei-lhe
sobre minhas impressões e sobre o que eu pensava até aquele momento. Ansiando
algumas lágrimas decidi mudar de assunto. Ele compreendeu que o que mais queria
naquele momento era ficar em silêncio. Estava totalmente frustrado.
No caminho de
volta fui até uma loja de artigos de presente a pedido de A. D. S. para comprar
uma caixinha. Ao contar o dinheiro faltavam cinco centavos. “Mil desculpas!
Posso trazer depois?” – disse para dona da loja. Ao chegar a casa disse ao A.
D. S. que “foi hilário sair de Iepê para ficar devendo R$ 00,05 em Pres. Prudente!” –
rimos da situação.
Banho.
Jantar. E A. D. S. foi deitar primeiro do que eu. Estava perdido em pensamento. Evitei
ler mais umas páginas do livro “Querido John”, mas fui ver o filme de mesmo
título – mais uma vez.
(Adormeci).
[CINCO]
Era mais um
dia, um novo dia. Entregar mais currículos. Esperança de algum telefonema para
nos chamar para entrevista ou coisa do tipo. Novamente café na R. e depois
seguir rumo ao centro de Presidente Prudente e outros locais para a
distribuição de currículos.
Almoçamos na casa do Er.
Durante a tarde
assistimos “Starstruck: Meu Namorado é Uma Super
Estrela", em um canal de TV aberto. Me revesei entre olhar para a tela da
televisão e as páginas do livro. Acabei desistindo das páginas do livro
“Querido John” e passei a prestar mais atenção no filme na TV.
Mais um dia se findava.
[SEIS]
Não havíamos
programado nenhum tipo de atividade para aquela manhã, pois era o dia de
retornar para Iepê. Como parte de uma rotina que criamos nesses dias. Fomos
tomar café na casa da R. – vizinha do A. D. S. Fui organizar a minha bolsa de
viagem. E, quando vimos, já era hora de ir embora...
Alguns
detalhes não foram narrados, mas sim, omitidos propositalmente. Esses
permanecerão no diário (da minha memória). Em breve retorno... Obs: O cheiro de
bom ar está na lembrança, e essa é outra longa história, né A. D. S.? (Risos) Fim.